terça-feira, outubro 31, 2006

O Barroco

barroco, s. m., estilo próprio das produções artísticas e literárias, que ocorreu aproximadamente entre os fins do séc. XVI e os meados do séc. XVIII, e que se caracteriza pela pompa ornamental, pelo preciosismo decorativo, pelo floreado e pelos conflitos entre o espiritual e o temporal, entre o místico e o terreno; barroca; cova; barranco; pérola de forma irregular.

A palavra "barroco", como a maioria dos períodos ou designações de estilo, foi inventada por críticos posteriores, e não pelos artistas do século XVII e começos do século XVIII. O termo original é português e designa um pérola irregular ou uma jóia falsa.

Actualmente, o termo "barroco" pode ser utilizado para caracterizar de forma pejorativa trabalhos artísticos ou de artesanato excessivamente ornamentados, tal como muitas outras vezes se emprega o termo "bizantino" como referência a tarefas demasiado complexas, excessivamente obscuras ou demasiado confusas.

Na realidade, o barroco exalta valores através da utilização de metáforas e alegorias, frequentes na literatura deste período, e procura maravilhar e causar espanto, tal como no Maneirismo, muitas vezes por meio da utilização de artifícios, sejam eles de linguagem ou pormenores artísticos. Um dos temas privilegiados é o tormento psicológico do Homem, tendo uma boa parte das suas obras seguido a temática religiosa, já que a Igreja Católica Romana era o principal «cliente» dos artistas e eram religiosos muitos dos escritores desta época, nomeadamente no caso da literatura portuguesa.

Os artistas procuravam a virtuosidade com realismo, tendo uma enorme preocupação com os detalhes (há quem se refira à obra barroca como uma complexidade típica).

Las Meninas, de Velazquez. Clique na imagem para saber mais sobre o quadro.

A falta de conteúdo era compensada através das formas, as quais deviam suscitar no espectador, no leitor, no ouvinte, a fantasia e a imaginação. É um momento em que a arte se encontra menos distante de quem dela pode usufruir, aproximando-se do público de maneira mais directa, diminuindo o fosso cultural que afastava a arte do utilizador, o que, por exemplo, acontecia frequentemente nas igrejas construídas nesta época, quando o luxo aí existente permitia a quem as frequentasse a sensação de pertença, de que também o povo podia agora entrar em ambientes recheados de obras artísticas, apreciá-los e deles usufruir.

Na literatura, encontramos o temática do duplo, a queda que precede a morte, o gosto pelo bizarro, uma enorme obsessão com a morte, porventura originária das inúmeras guerras religiosas que por esta altura abundavam em toda a Europa.

São recorrentes tópicos como o medo da morte, a água corrente que significa o tempo que passa, com ligação à morte simbolizada pela água entre os gregos, romanos e celtas, a metáfora das areias movediças, as formas arredondadas como referência às pérolas irregulares, os reflexos, e a alusão a mitos clássicos como o de Narciso e os «mises en abyme», que na literatura podem surgir sob a forma de textos dentro de textos, os quais reproduzem a história principal em histórias secundárias, tal como o fazem os reflexos entre dois espelhos colocados em frente um do outro, podendo surgir, por exemplo, numa peça de teatro em que um dos personagens representa um actor que representa uma personagem, ou um quadro em que um espelho mostra ao espectador um reflexo da cena que podemos ver pintada.

Para saber mais: aqui.
Sobre o quadro: aqui.


Música do período barroco (mistura editada de Pachelbel, Bach e Vivaldi):


Sobre a música do período barroco: aqui.

Uma visão histórica da literatura portuguesa

Uma breve e muito reduzida visão cronológica dos principais autores e obras ao longo da história da literatura portuguesa.










segunda-feira, outubro 30, 2006

Episódio 5

Pedro acordou no hospital.
Ao acordar, deparou com um homem que estava a fechar a porta do quarto em que o jovem se encontrava. "Quem é este homem? Parece que o estou a reconhecer...", pensava Pedro. "Espera! É ele... É o homem que tinha as minhas chaves, o que estava do outro lado da rua... Será possível?". Era. Era esse mesmo homem que ele viu, corpulento e com expressões rudes.
Pedro estava a ficar aterrorizado. O homem virou-se na sua direcção e começou a avançar com uma almofada na mão. Nessa altura o jovem percebeu tudo. O rapaz estava certo de que aquele homem queria matá-lo, queria sufocá-lo com aquela almofada que se ia aproximando.
Pedro entrou em pânico. Não conseguia perceber por que razão tal coisa lhe estava a acontecer. Começou então a implorar pela vida. O homem, como que surdo e cego, não parecia sequer ouvir as súplicas do rapaz, nem parecia ver o terror e o desespero apoderarem-se da sua face. O homem não via senão o seu objectivo. Por isso, continuou a avançar. Estava já muito perto.
Por instinto, Pedro começou a lutar, a lutar contra o homem, a lutar pela vida. Mas não valia a pena. O homem era muito mais forte que o pobre Pedro.
Foi então que aconteceu. A almofada cobriu-lhe, por fim, a cara toda. O jovem começou a sufocar. "SOCORRO!". Ninguém o ouvia. Não havia mais nada a fazer. Até que ficou tudo preto.
Repentinamente, Pedro abriu os olhos. "Estarei no céu?". Não. Estava na sua cama, no seu quarto, na sua casa. Não passara tudo de um sonho.
Mas, pelo menos, as notas de quinhentos continuavam a ser uma realidade. Ou será que não?
(. . .)

sábado, outubro 28, 2006

Episódio 3

Quando a aula terminou, foi a correr desenterrar o dinheiro. No exacto momento em que procedia a esta operação, (...) o Pedro ouviu um barulho estranho que o pôs em alerta, mas ao olhar em volta não viu nada senão o descampado e, como o mais provável era ser um animal qualquer, não ligou e lá acabou por desenterrar as notas e pô-las mochila.
Continuou o caminho para casa, durante o qual passou o tempo a pensar no que haveria de fazer ao dinheiro. Quando chegou à entrada do seu prédio, enquanto tirava as chaves da mochila teve a estranha sensação de que estar a ser observado, mas, como não viu nada de suspeito, supôs que isso se devesse ao nervosismo de trazer aquela elevada quantia de dinheiro.
Chegou a casa e foi directamente para o quarto, e pôs-se a pensar onde esconderia o dinheiro. Acabou por decidir pôr o dinheiro dentro da caixa do computador, pois aí ninguém haveria de mexer. Continuou com a sua rotina durante o resto do dia sem nada de estranho, até que à noite, quando se ia deitar, ao fechar os estores da janela reparou que em frente do seu prédio estivera o dia inteiro um carro que nunca tinha visto por ali, com um sujeito no interior. Mas pensou ser apenas uma coincidência e que ele é que devia estar com a mania da perseguição devido à sua descoberta. Deitou-se e lá acabou por adormecer.

( . . . )

quarta-feira, outubro 25, 2006

UM DESAFIO A TODOS OS ALUNOS DA TURMA

O

desafio que proponho aqui é continuarem a escrever a história aqui começada.

Quem quiser pode pegar no que já está escrito e continuar. E quem vier a seguir continuar o que os outros antes fizeram. É uma narrativa que pode ter personagens, diálogos, diferentes espaços onde ela poderá decorrer, enfim, é um desafio à imaginação. Mas é preciso não esquecer a coerência. Quem vier a seguir terá que conhecer toda a história para trás, para não trocar nomes de personagens, e ainda menos alterar acontecimentos que já ocorreram.

Ah, e falta um título. Podem colocar propostas para o título e sugestões para a continuação da história nos comentários.

Vamos lá ver quem é que aceita o desafio.

Aqui vai o começo:



Quando ia para a escola pelo atalho do costume, um caminho que cortava pelo meio de um terreno meio selvagem que no inverno ficava empapado de lama, o Pedro deu com um pedregulho que não lhe era familiar naquele sítio. Das tantas e tantas vezes que por ali tinha passado já conhecia todas as pedras do caminho, ao ponto de quase as tratar pelo nome.

Com algum esforço, revirou-o e deu com uma data de maços de notas de 500 euros. Nunca tinha visto sequer uma nota de quinhentos, quanto mais uma quantidade destas. De quem seria aquele dinheiro? Quem o teria ali deixado? Quanto é que estaria ali no total? Uma fortuna, certamente.

Olhou para um lado e outro para ver se não vinha ninguém e se não estava a ser observado. Agachou-se e colocou a sua mochila ao lado dos maços. Começou então a empurrá-los para o seu interior.

( ... )

terça-feira, outubro 24, 2006

O discurso do chefe

E

ra o dia em que o chefe ia fazer um discurso. Estava toda a gente à espera. Na vila, todos falavam disso, antecipando o possível tema, o que diria o chefe acerca dos problemas que todos sentiam, que lhes afectavam a vida de todos os dias, que lhes hipotecavam o futuro. O que será que iria sair da boca do chefe? Era essa a maior preocupação. Teria aquilo ponta por onde se pegasse? É que, no passado, o chefe já tinha discursado algumas vezes e se, numa ou noutra vez, casos raros, tinha tido algum interesse, na maior parte dos discursos não falara sobre nada de importante, nada que se visse, enfim.

À hora marcada, a sala estava apinhada. Estavam todos à espera do chefe. E do discurso. E do tema. E das consequências. É que podia haver consequências do discurso do chefe. Nunca se sabia. Afinal, era o chefe. E chefe é chefe e pronto. É preciso ouvi-lo. Ainda por cima, se não aparecessem, havia de haver quem reparasse na ausência e, se uma pessoa falta, mesmo no meio de uma multidão, mesmo que esta não seja tão numerosa quanto isso, pode ser notada. E acabar por ir parar ao meio da rua. O chefe não é para brincadeiras. Para dar mais ênfase à situação, havia duas câmaras de vídeo que iam filmar toda a reunião. Uma virada para o palco de onde o chefe ia falar e uma outra para a audiência. Por isso mais valia estar do que não estar. Era preferível jogar pelo seguro. Quem está prevenido...

Quando o chefe entrou, com um ar severo, o burburinho que havia na sala terminou de súbito. Era preciso respeito pelo chefe. Caso contrário, podia haver repercussões. E das desagradáveis.

O chefe retirou os óculos e colocou-os sobre o nariz, depois extraiu algumas folhas de papel do bolso interior do casaco, desdobrou-as, endireitou-as sobre a mesa atrás da qual se havia sentado, deu dois goles no copo de água estrategicamente colocado à sua direita, pigarreou para aclarar a voz e olhou para a assistência por cima dos óculos. O chefe ia falar.


- Companheiros e companheiras, não é por ser vosso chefe que me encontro aqui hoje. Mas sim por ser um amigo, um amigo mais sábio, mais velho, mais conhecedor do mundo do que todos vós. É por essa mesma razão que também vos posso aconselhar, com a pretensão de que estes meus conselhos não sejam em vão, que tenham alguma utilidade prática para as vossas vidas.

»Eu bem sei que alguns dos aqui presentes começarão a pensar que se trata única e simplesmente de argumentos que nada têm de novo, que nada disto poderá servir alguma finalidade. Mas muito claramente gostaria de aqui deixar dito que não têm razão. Se há alguma coisa que um chefe pode saber é como tratar de tudo e de todos. Mas também gostaria de vos dizer que, se um chefe erra, o seu erro é maior, porque é mais responsável, e é por isso que um chefe não deve nem pode errar. Porque erros desses pagam-se caro. E afectam muito gente.

»É bom que se diga que um chefe não é Deus, nem nada que se pareça. Não tem nem a infalibilidade nem a omnipotência. Houve tempos em que assim era. Que um chefe tinha até poder de vida ou de morte sobre os seus súbditos. Mas hoje em dia um chefe não tem súbditos. Tem apenas quem trabalhe para si, e nessas horas tem o poder de mandar, de orientar o trabalho de quem dele recebe o ordenado, é por isso que é chefe, mas apenas isso.

»Não pensem por isso em mim como alguém que quer, pode e manda. Isso eram coisas de outros tempos. Um chefe, nos nossos dias, tem mais responsabilidades, muitas responsabilidades, para vos dizer a verdade. Até mais do que as que gostaria de ter. Das suas decisões depende o sucesso de todos, do seu saber e da sua experiência decorre a possibilidade de todos continuarem a ter um trabalho e a receberem o seu ordenado.

»A sua vida é cheia de pressão, e é preciso saber controlar os nervos e agir para o bem de todos. E é isso que é um chefe.

sexta-feira, outubro 20, 2006

Sobre a ficha de leitura

Apesar de ter enviado um documento com estas informações por correio electrónico para todos os interessados, aqui ficam as orientações relativas à ficha de leitura.

Ficha de leitura

Numa ficha de leitura de uma obra devemos incluir as seguintes informações, que são obrigatórias:

1. Dados bibliográficos




Autor:
Título:
Editora:
Colecção:
Lugar da edição:
Data da edição:
Nº de páginas:

2. Dados sobre o autor e a obra

1. Sobre o autor:



a. Breve biografia do autor (não mais do que dez linhas).
b. Bibliografia activa básica do autor (no caso de grandes bibliografias, incluir apenas as obras consideradas essenciais, referindo os géneros a que pertencem – romance, poesia, teatro, ensaio crítico, ou outros)
c. Bibliografia passiva básica acerca do autor e da obra (referir apenas as obras ou artigos mais importantes publicados sobre o autor, a sua obra, ou a obra em particular que é tratada na ficha).



2. Sobre a obra:



a. Género: poesia, teatro, conto, novela, romance, ensaio...
b. Tema principal: amor, aventuras, ficção científica...
c. Personagens principais: nome, traços físicos e psicológicos de cada uma das principais e das secundárias mais importantes.
d. Lugar e tempo de acção: país, cidade...; Idade Média, actualidade, futuro...
e. Resumo do assunto da obra.



3. Avaliação pessoal

1. Explicitação do título.
2. Vocabulário novo relacionado com a leitura (1).
3. Selecção de um excerto da obra de que mais gostaste.
4. Opinião crítica sobre a obra.
5. Classificação da obra (de 0 a 20 pontos).



NOTA: A ficha de leitura de um livro é um material importante para o teu estudo. Na ficha de leitura registamos informações gerais sobre a obra a que se refere, anotações particulares, sínteses do assunto, etc.

(1) Não será necessário referir aqui todos os vocábulos novos que aprendeste, mas apenas aqueles que achares mais significativos e as áreas com que se relacionam (de carácter geral, de uma temática específica, por exemplo da biologia, da astronomia, da física, da história, da informática, etc.)

Uma «hipérbole» de aliterações

E

ste texto foi retirado do sítio da Internet Ciberdúvidas, um empréstimo que, espero, não seja levado a mal. Atente-se que este texto é originariamente escrito em português do Brasil. Há que dar um «desconto» pelo exagero.




«Apenas e somente a Língua Portuguesa permite escrever isto:

Pedro Paulo Pereira Pinto Pires, pequeno pintor, português, pintava portas, paredes, portais. Porém, pediu para parar porque preferiu pintar panfletos. Partindo para Piracicaba, pintou prateleiras para poder progredir. Posteriormente, partiu para Pirapora. Pernoitando, prosseguiu para Paranavaí, pois pretendia praticar pinturas para pessoas pobres. Porém, pouco praticou, porque Padre Paulo pediu para pintar panelas, porém posteriormente pintou pratos para poder pagar promessas. Pálido, porém personalizado, preferiu partir para Portugal para pedir permissão para papai para permanecer praticando pinturas, preferindo, portanto, Paris. Partindo para Paris, passou pelos Pirinéus, pois pretendia pintá-los. Pareciam plácidos, porém, pesaroso, percebeu penhascos pedregosos, preferindo pintá-los parcialmente, pois perigosas pedras pareciam precipitar-se principalmente pelo Pico, porque pastores passavam pelas picadas para pedirem pousada, provocando provavelmente pequenas perfurações, pois, pelo passo percorriam, permanentemente, possantes potrancas. Pisando Paris, permissão para pintar palácios pomposos, procurando pontos pitorescos, pois, para pintar pobreza, precisaria percorrer pontos perigosos, pestilentos, perniciosos, preferindo Pedro Paulo precaver-se. Profundas privações passou Pedro Paulo. Pensava poder prosseguir pintando, porém, pretas previsões passavam pelo pensamento, provocando profundos pesares, principalmente por pretender partir prontamente para Portugal. Povo previdente! Pensava Pedro Paulo... Preciso partir para Portugal porque pedem para prestigiar patrícios, pintando principais portos portugueses.

– Paris! Paris! - proferiu Pedro Paulo.

– Parto, porém penso pintá-la permanentemente, pois pretendo progredir.

Pisando Portugal, Pedro Paulo procurou pelos pais, porém, Papai Procópio partira para a província. Pedindo provisões, partiu prontamente, pois precisava pedir permissão para Papai Procópio para prosseguir praticando pinturas. Profundamente pálido, perfez percurso percorrido pelo pai.

Pedindo permissão, penetrou pelo portão principal. Porém, Papai Procópio puxando-o pelo pescoço proferiu:

– Pediste permissão para praticar pintura, porém, praticando, pintas pior.

Primo Pinduca pintou perfeitamente prima Petúnia.

– Porque pintas porcarias?

– Papá – proferiu Pedro Paulo –, pinto porque permitiste, porém, preferindo, poderei procurar profissão própria para poder provar perseverança, pois pretendo permanecer por Portugal. Pegando Pedro Paulo pelo pulso, penetrou pelo patamar, procurando pelos pertences, partiu prontamente, pois pretendia pôr Pedro Paulo para praticar profissão perfeita: pedreiro!

Passando pela ponte precisaram pescar para poderem prosseguir peregrinando.

Primeiro, pegaram peixes pequenos, porém, passando pouco prazo, pegaram pacus, piaparas, pirarucus.

Partindo pela picada próxima, pois pretendiam pernoitar pertinho, para procurar primo Péricles primeiro.

Pisando por pedras pontudas, Papai Procópio procurou Péricles, primo próximo, pedreiro profissional perfeito. Poucas palavras proferiram, porém prometeu pagar pequena parcela para Péricles profissionalizar Pedro Paulo.

Primeiramente Pedro Paulo pegava pedras, porém, Péricles pediu-lhe para pintar prédios, pois precisava pagar pintores práticos. Particularmente Pedro Paulo preferia pintar prédios.

Pereceu pintando prédios para Péricles, pois precipitou-se pelas paredes pintadas. Pobre Pedro Paulo, pereceu pintando...

Permita-me, pois, pedir perdão pela paciência, pois pretendo parar para pensar... Para parar preciso pensar. Pensei. Portanto, pronto, pararei.

(E achamos nós o máximo quando conseguimos dizer: 'O Rato Roeu a Rica Roupa do Rei de Roma'!...)»



terça-feira, outubro 17, 2006

O mundo em que vivemos

Não preciso de 20 linhas para dizer o que sinto, bastam apenas três ou quatro frases.
Tudo o que escrevo vem de dentro e é sincero.

As pessoas acordam e logo de manhã revelam o seu lado mais monstruoso, falo de pessoas que gostam de prejudicar os outros, apenas para ficarem bem vistos, pessoas parasitas que vivem do mal que fazem aos outros.

E agora pergunto-me: Mas porquê? Porque é que existem pessoas assim?

Estás a pensar que isso nunca te aconteceu? Que nunca ninguém falou contigo só porque via algum interesse nisso? Que não conheces ninguém falso à tua volta?
Então prepara-te porque o mundo está cheio de pessoas assim, se as queres encontrar, não precisas de ir muito longe, olha à tua volta.
O que mais me impressiona, são pessoas novas, adolescentes, crianças, que ainda não sabem nada da vida, e agem assim, já são maus para os próprios amigos, amigos que não são verdadeiros amigos, mas sim um recurso, algo que utilizam quando precisam. Se com poucos anos já são assim fará quando forem adultos.
E sabem porque é que o mundo está como está?
Por essa mesma razão, as pessoas só se preocupam com elas próprias, esquecem o resto do mundo, este está cheio de pessoas incapazes de esticar a mão para ajudar quem quer que seja.
Não te impressiones se um dia precisares de alguém, pedires ajuda, e não o fizerem. De repente apercebes-te que não tens ninguém, que aqueles que acreditavas serem teus verdadeiros amigos, não passam de verdadeiros mentirosos.
No mundo não existem só coisas belas,não te iludas disso,espero que abras os olhos a tempo. Os meus, já abri há muito tempo!

Como repararam, as duas ou três frases que eu pensava serem suficientes, não foram, talvez porque nunca pensei ter tanta coisa para vos contar.

domingo, outubro 15, 2006

A propósito do texto expositivo-argumentativo

Os textos podem ser classificados em três grandes tipos: narrativos, descritivos e expositivos.

No caso que agora nos interessa, irei aqui deixar algumas considerações acerca do texto expositivo-argumentativo.


Argumento é o raciocínio pelo qual, de uma ou mais proposições, se deduz uma conclusão, raciocínio seguido geralmente pelo orador em apoio da sua tese.

Os argumentos oratórios podem ser directos e indirectos. Os directos têm naturalmente conclusão afirmativa da tese sustentada pelo orador, os indirectos, a sua negação. A totalidade dos argumentos directos têm a denominação de confirmação, fortalecendo eles a tese, mas a dos indirectos, a de refutação, contribuindo estes para a rejeição das objecções do adversário.

Os argumentos constituem a parte essencial dum discurso. Todas as outras partes convergem para ele.

Se na demonstração o acento, a tónica, cai na correcção do raciocínio, na argumentação o elemento principal constitui a eficiência desta perante o auditório, cuja adesão à tese sustentada no discurso é seguida pelo orador.



Aristóteles definiu a argumentação como a «arte de falar de modo a convencer».
Ora, toda a arte tem normas e querer fazer o uso de qualquer arte implica o domínio das suas técnicas. E a arte da argumentação obedece a um trabalho rigoroso que prevê várias etapas: escolher o problema, procurar os argumentos e os contra-argumentos, dispô-los adequadamente, construir um discurso convincente, formular juízos de valor.

E se o discurso argumentativo tem o objectivo de usar bem a palavra para convencer, deve procurar cumprir alguns requisitos fundamentais como a clareza, o rigor, a objectividade, a coerência, a sequência lógica e a riqueza lexical.

Assim, sendo mais práticos, para se elaborar um texto argumentativo, dever-se-á:

– começar por uma introdução em que se apresenta o problema que vai ser objecto do discurso (que ocupa, normalmente, um parágrafo);
– em seguida, construir o desenvolvimento, em que se expõem os argumentos e os contra-argumentos fundamentados com exemplos (o desenvolvimento compreende, pelo menos, dois parágrafos – um para os argumentos e outro para os contra-argumentos);
– para finalizar, a conclusão (de um parágrafo) que deve retomar a afirmação feita na introdução, agora já confirmada ou contrariada.



É importante não descurar a sequência lógica que se pretende que haja entre os parágrafos, implicando que se esteja atento ao seu encadeamento, o que se consegue com a utilização de articuladores de discurso ou de conectores (causa-efeito-consequência, hipótese-solução).

sábado, outubro 14, 2006

Para ler até ao fim

Quando ela acordou e assomou à janela da varanda, o dia estava cinzento, como de costume. Já estava farta daquilo, mas também não conhecia muito melhor do que gente cinzenta, horas cinzentas, umas após outras, um dia a dia monótono como o de tantos outros, certamente. Ouvia queixas todos os dias, de todos os que viviam no seu mundo, aliás o único que lhe coubera em sorte, que nisto de sortes há quem tenha muita ou pouca, a maioria assim-assim. Mas a cara de pau que via naquela gente dava mesmo a ideia de que a felicidade devia andar um tanto arredia da sua vida. Não havia quem tivesse iniciativa, quem dissesse «Finalmente acabámos com a crise, a comida vai dar à farta para todos e não haverá quem mais passe fome nem cá em casa nem em lado nenhum, até parece que estamos na Europa dos tais vinte e não sei quantos, que já foram doze ou menos e agora a Europa inchou a já querem lá meter os parentes e os vizinhos», falavam mal deste e daquele, e este e aquele falavam mal dos outros e de quem quer que estivesse à mão de semear, e acabavam o dia tal como o haviam começado, com ar de poucos amigos, prontos para bater na mulher, no marido, nos filhos, no gato, no vizinho de baixo, de cima, da esquerda e da direita, no chefe e no subordinado, em mim, em todo o mundo e ninguém.

Passando por alto esta breve referência vicentina, e voltando à carga com os tons acinzentados, era cinzento o sorriso, cinzenta a roupa que levavam para a rua, cinzento o sorriso que traziam de volta, cinzenta a conversa ao serão, que tinha já começado cinzenta logo de manhã, enfim, com umas quantas variações de cinzento ao fim de semana. E se o raio do gato fazia alguma quem pagava as favas era eu, que estava ali mesmo a jeito, que não sabia tomar conta dele, que isto e aquilo, por isso quando ele chegava a casa eu escondia-me no quarto e lá ouvia a voz dizer «Mas onde raio é que ela está metida, querem ver que já fez alguma?», e se estava à espera de alguma festa que fosse tirando a cavalinho da chuva. Tola como sou, acabava por aparecer com a língua de fora, como se me tivesse esfalfado o dia inteiro, e então teria direito a uma festa, que isto de vida de cão tem que se lhe diga.

quarta-feira, outubro 11, 2006

Dá que pensar

Hoje incluo aqui uma crónica retirada do jornal Público que nos dá que pensar, sobretudo se tivermos em consideração que a nossa privacidade, nos dias de hoje, é muito menor do que era há uns anos atrás. Por outro lado, a interferência da publicidade no nosso dia a dia é um outro assunto que é aqui também focado.


Crónica publicada no dia 26 de Setembro de 2006

segunda-feira, outubro 09, 2006

Os medos

H

á cada medo estranho que uma pessoa até tem medo de o nomear. No entanto, e depois de ultrapassar o medo de chamar os medos pelo nome, aqui fica uma curta lista. Francamente, de todos eles apenas compreendo perfeitamente os desgraçados que sofrem de singenesofobia. Quem quiser saber o que é, que procure na lista abaixo. Está ordenada alfabeticamente, por isso mesmo os mais preguiçosos e preguiçosas podem dar facilmente com ela. E se não gostarem não me venham cá com ameaças, que já estou a tremer de medo mesmo assim.

Alodoxafobia - Medo de opiniões.

Anablepobia - Medo de procurar.

Anuptafobia - Medo de ficar solteiro.

Araquibutirofobia - Medo de que a manteiga de amendoim fique presa ao céu da boca.

Aritmofobia - Medo de números.

Asimetrifobia - Medo de tudo o que seja assimétrico.

Aulofobia - Medo de flautas.

Autodisomofobia - Medo de pessoas que cheirem mal.

Automisofobia - Medo de estar sujo.

Barofobia - Medo da gravidade.

Bibliofobia - Medo de livros.

Blenofobia - Medo de coisas peganhentas.

Caliginefobia - Medo de mulheres bonitas.

Carnofobia - Medo de carne.

Catisofobia - Medo de estar sentado.

Clinofobia - Medo de ir para a cama.

Coprastasofobia - Medo de ficar constipado.

Cronomentrofobia - Medo de relógios.

Deipnofobia - Medo de jantar ou de conversas durante ou depois do jantar.

Dextrofobia - Medo de qualquer objecto colocado do lado direito do corpo.

Epistemofobia - Medo do conhecimento.

Filosofobia - Medo da filosofia.

Geniofobia - Medo de queixos.

Genufobia - Medo de joelhos.

Hagiofobia - Medo de santos ou de coisas sagradas.

Hierofobia - Medo de padres e objectos sagrados.

Hipopotomonstrosesquipedaliofobia - Medo de palavras compridas.

Ictiofobia - Medo de peixe.

Koinonifobia - Medo de quartos.

Lacanofobia - Medo de vegetais.

Levofobia - Medo de coisas do lado esquerdo do corpo.

Logofobia - Medo de palavras.

Macrofobia - Medo de esperas demoradas.

Megalofobia - Medo de coisas grandes.

Melanofobia- Medo da cor preta.

Melofobia - Medo ou ódio à música.

Metrofobia - Medo ou ódio à poesia.

Mitofobia - Medo de mitos ou histórias ou argumentos falsos.

Nomatofobia - Medo de nomes.

Numerofobia - Medo de números.

Octofobia - Medo do número 8.

Oftalmofobia - Medo de ser olhado.

Ostraconofobia - Medo de mariscos com concha.

Ouranofobia - Medo do céu.

Peladofobia - Medo de pessoas carecas.

Plutofobia - Medo da riqueza.

Polifobia - Medo de tudo e mais alguma coisa.

Querofobia - Medo da alegria.

Scriptofobia - Medo de escrever em público.

Sesquipedalofobia - Medo de palavras compridas.

Singenesofobia - Medo dos parentes.

Sofofobia - Medo de aprender.

Taasofobia - Medo de se sentar.

Urofobia - Medo da urina ou de urinar.

Venustrafobia - Medo de mulheres bonitas.

Xantofobia - Medo da cor amarela ou da palavra amarelo.

quinta-feira, outubro 05, 2006

Um poema de Jorge de Sena

Reprodução do quadro de Goya

Jorge de Sena escreveu um dia um poema intitulado «Carta a meus filhos sobre os Fuzilamentos de Goya», inspirado num quadro daquele pintor, intitulado «Fuzilamentos de 8 de Maio de 1808», sobre a revolta do povo de Madrid contra o domínio francês de Napoleão, sofrendo depois as consequências desse acto através de terríveis fuzilamentos em Moncloa. Este poema foi publicado num livro de 1963, com o título «Metamorfoses». É um poema que vale a pena ser lido, pela mensagem que encerra, e também pela esperança que o poeta deixa transparecer no mundo futuro em que viverão os seus filhos.

Carta a meus filhos sobre os fuzilamentos de Goya

Não sei, meus filhos, que mundo será o vosso.
É possível, porque tudo é possível, que ele seja
Aquele que eu desejo para vós. Um simples mundo,
Onde tudo tenha apenas a dificuldade que advém
De nada haver que não seja simples e natural.
Um mundo em que tudo seja permitido,
Conforme o vosso gosto, o vosso anseio, o vosso prazer,
O vosso respeito pelos outros, o respeito dos outros por vós.
E é possível que não seja isto, nem seja sequer isto
O que vos interesse para viver. Tudo é possível,
Ainda quando lutemos, como devemos lutar,
Por quanto nos pareça a liberdade e a justiça,
Ou mais que qualquer delas uma fiel
Dedicação à honra de estar vivo.
Um dia sabereis que mais que a humanidade
Não tem conta o número dos que pensaram assim,
Amaram o seu semelhante no que ele tinha de único,
De insólito, de livre, de diferente,
E foram sacrificados, torturados, espancados
E entregues hipocritamente à secular justiça,
Para que os liquidasse com suma piedade e sem efusão de sangue.
Por serem fiéis a um deus, a um pensamento,
A uma pátria, uma esperança, ou muito apenas
À fome irrespondível que lhes roía as entranhas,
Foram estripados, esfolados, queimados, gaseados,
E os seus corpos amontoados tão anonimamente quanto haviam vivido,
Ou suas cinzas dispersas para que delas não restasse memória.
Às vezes, por serem de uma raça, outras
Por serem de uma classe, expiaram todos
Os erros que não tinham cometido ou não tinham consciência
De haver cometido. Mas também aconteceu
E acontece que não foram mortos.
Houve sempre infinitas maneiras de prevalecer,
Aniquilando mansamente, delicadamente,
Por ínvios caminhos quais se diz que são ínvios os de Deus.
Estes fuzilamentos, este heroísmo, este horror,
Foi uma coisa, entre mil, acontecida em Espanha
Há mais de um século e por violenta e injusta
Ofendeu o coração de um pintor chamado Goya,
Que tinha um coração muito grande, cheio de fúria
E de amor. Mas isto nada é, meus filhos.
Apenas um episódio, um episódio breve,
Nesta cadeia de que sois um elo (ou não sereis)
De ferro e de suor e sangue e algum sémen
A caminho do mundo que vos sonho.
Acreditai que nenhum mundo, que nada nem ninguém
Vale mais que uma vida ou a alegria de tê-la.
É isto o que mais importa – essa alegria.
Acreditai que a dignidade em que hão-de falar-vos tanto
Não é senão essa alegria que vem
De estar-se vivo e sabendo que nenhuma vez
Alguém está menos vivo ou sofre ou morre
Para que um só de vós resista um pouco mais
À morte que é de todos e virá.
Que tudo isto sabereis serenamente,
Sem culpas a ninguém, sem terror, sem ambição,
E sobretudo sem desapego ou indiferença,
Ardentemente espero. Tanto sangue,
Tanta dor, tanta angústia, um dia
- mesmo que o tédio de um mundo feliz vos persiga –
não hão-de ser em vão. Confesso que
muitas vezes, pensando no horror de tantos séculos
de opressão e crueldade, hesito por momentos
e uma amargura me submerge inconsolável.
Serão ou não em vão? Mas, mesmo que o não sejam,
Quem ressuscita esses milhões, quem restitui
Não só a vida, mas tudo o que lhes foi tirado?
Nenhum Juízo Final, meus filhos, pode dar-lhes
Aquele instante que não viveram, aquele objecto
Que não fruíram, aquele gesto
De amor, que fariam «amanhã».
E, por isso, o mesmo mundo que criemos
Nos cumpre tê-lo com cuidado, como coisa
Que não é só nossa, que nos é cedida
Para a guardarmos respeitosamente
Em memória do sangue que nos corre nas veias,
Da nossa carne que foi outra, do amor que
Outros não amaram porque lho roubaram.

Jorge de Sena

quarta-feira, outubro 04, 2006

Relatório Mundial

Se a população da Terra fosse reduzida à dimensão de uma pequena cidade de 100 pessoas, poderia observar-se a seguinte distribuição:
- 57 asiáticos;
- 21 europeus;
- 14 americanos (norte e sul);
- 8 africanos;
- 52 seriam mulheres e os outros 48 seriam homens;
- haveria 70 pessoas de cor e 30 seriam caucasianos;
- 6 dessas pessoas seriam donas de 59% de toda a riqueza e seriam dos Estados Unidos da América;
- 80 viveriam em más condições;
- 70 não teriam recebido qualquer instrução escolar;
- 50 passariam fome;
- uma morreria enquanto duas nasceriam;
- uma teria um computador;
- uma (apenas uma) teria instrução escolar superior;

Realmente, vendo o mundo nesta perspectiva torna-se evidente a necessidade de solidariedade, colaboração e outros serviços, nomeadamente, a educação igual para toda população mundial, não é verdade?

Agora pensem também no seguinte:

Se vocês hoje acordaram perfeitamente saudáveis, então são mais felizes que o milhão de pessoas que não vão sobreviver até ao final da próxima semana.
Se nunca sofreram os efeitos da guerra, a solidão de uma cela, a agonia da tortura, ou fome, então são mais felizes que outras 500 milhões de pessoas do mundo.
Se podem entrar numa igreja (ou mesquita) sem medo de ser preso ou morto, são mais felizes que outras 3 milhões de pessoas.
Se têm comida no frigorífico, sapatos, roupa, uma cama e um tecto, são mais ricos que 75% da população mundial.
Se têm uma conta bancária, dinheiro na carteira e algumas moedas num mealheiro, pertencem ao pequeno grupo de 8% de pessoas do mundo que estão bem na vida.

E vocês que estão a ler este "post" são duplamente abençoados porque:
1- Não fazem parte do grupo de 200 milhões de pessoas que não sabe ler.
2- e... têm um computador.

Julgo que estes dados dão um pouco que pensar, não?
Espero que sirvam pelo menos para se arrependeram de se estarem a queixar todos os dias da vida que têm.

As pessoas

Reprodução de um quadro de George Underwood.Afirmamos solenemente que qualquer pessoa é capaz de qualquer coisa. Ou até de muitas coisas. As pessoas acordam, lavam-se ou nem por isso, comem qualquer coisa ou nem isso, dão umas voltas quando podem, voltam a comer ou nem isso e depois dormem outra vez. As capacidades inerentes a qualquer pessoa são muitas, e as coisas que fazem são diversificadas.

Vejamos por exemplo a idade: qualquer pessoa tem um ou mais anos. Algumas têm quase um. Há inclusive outras que têm anos demais. E são dignos de referência os casos de idade da infância, da primeira e da segunda, da idade da adolescência, da meia-idade, e da terceira idade. Temos pessoas para cada uma delas. As pessoas consideram que há idades melhores e idades piores, mas trata-se apenas de um ponto de vista e as opiniões sobre este assunto são absolutamente pessoais e variam de acordo com a idade. Merece ainda ser aqui registado o caso das pessoas que não têm idade.

As pessoas andam de um lado para o outro. Há quem refira que se trata de viajar. Viaja-se a pé, de comboio, de automóvel, de barco, de avião, de bicicleta, de moto, de cadeira de rodas, e também se viaja à conta, embora não seja muito claro o que isto significa, porque não é muito vulgar ver pessoas a contar enquanto andam para a frente e para trás; por outro lado, há quem esteja sempre a contar as viagens que já fez e as que virá a fazer no futuro. Nos últimos tempos têm sido notícia as pessoas que viajam de trotinete. Um dos temas que também preocupa muitas pessoas é a última viagem, embora já nem se lembrem da primeira, e existem muitas empresas apenas vocacionadas para esta viagem, embora haja outras que trabalham com viagens para todo o mundo e a que normalmente as pessoas chamam agências de viagens, não se percebendo muito bem porque também não chamam o mesmo às outras, as da última viagem.

Viaja-se isoladamente, em família, ou isola-se a família e vai-se viajar, o que não deixa de ser uma opção para muitas pessoas, que são capazes da pagar qualquer coisa para ir viajar. Há pessoas que viajam muito e há pessoas que viajam pouco ou nem sequer isso, por isso se diz que haja quem viaje de boca.

Ora bem, esta é uma expressão curiosa. Viajar de boca significará que não se leva a dentadura nas viagens? Ou então que se vai de viagem e se deixa a boca em casa, no seguimento de uma operação plástica? E quando se volta vai-se novamente ao cirurgião para voltar a meter a boca no sítio? Ou leva-se apenas a boca e mais nada? E será também necessário para isso fazer uma operação plástica antes de viajar? Trata-se, pois, de algo que convém esclarecer, porque pelos vistos há muitas pessoas que praticam esta modalidade. Contudo, não nos foi possível recolher testemunhos acerca do assunto, porque quem tinha boca não a quis abrir para contar como foi, nem pretendeu assim recomendar esta prática.

As pessoas também respiram. Umas pessoas respiram mais do que as outras e há pessoas que já não respiram mesmo nada e que outras pessoas levam embora e escondem num sítio qualquer de maneira que já ninguém lhes põe a vista em cima. A estranheza deste caso chamou a nossa atenção, uma vez que ficou claro que há pessoas que escondem outras pessoas, para já não dizer que há pessoas que escondem coisas.

Ultimamente tem sido muito debatida a respiração artificial, ou seja, um artifício para pôr a respirar aquelas pessoas que se recusam terminantemente a fazê-lo. Parece que outra modalidade muito em voga, sobretudo na época balnear, é a respiração boca-a-boca. Embora possa parecer fora do normal, neste tipo de respiração não funciona o nariz, que se sabe ser um apêndice que serve para respirar e para outras coisas, nomeadamente para ser metido onde não deve. Os praticantes de respiração boca-a-boca recusam-se a utilizar o nariz, afirmando ser prejudicial às suas actividades, embora não seja muito claro onde é que o metem quando não o estão a usar, e este conselho poderia ser de grande utilidade para certas pessoas, embora para outras nem por isso.

As pessoas falam, embora nem todas. Também ouvem, mas falam mais do que ouvem, e isto é um fenómeno típico entre certas actividades das pessoas, variando também de acordo com o sexo e a idade. Há quem venda a fala palavra a palavra, há quem venda ao segundo, e há ainda quem utilize certos meios técnicos para se pôr a falar em todo o lado, e quem fale a torto e a direito, não sendo igualmente muito claro o significado deste último tipo de fala, embora nos pareça que as pessoas possam colocar o corpo em várias posições para poderem falar.

As pessoas também conversam. Conversam de tudo e de nada, e há sempre gente a conversar. Mesmo quando não se quer, há sempre pessoas dispostas a isso. Outras ficam indispostas com isso e algumas nem sim nem não. Foram testemunhados diversos casos de pessoas que têm sempre a mesma conversa e de pessoas que não têm conversa nenhuma. A maior parte das conversas não tem interesse nenhum. Interrogadas umas pessoas quaisquer sobre o assunto, foi praticamente unânime a opinião de que as pessoas gostam de ser levadas na conversa, não tendo ficado porém muito claro para onde é que elas eram levadas, muito embora seja inegável que há quem vá na conversa, não estando este meio de transporte entre os que acima referimos a propósito das viagens.

Existe uma regra de ouro a propósito da conversa: não se fala enquanto se mastiga. Mas há muitas pessoas que decidem pura e simplesmente ignorar esta regra, defendendo a liberdade plena das suas acções. Daí que seja comum o atendimento nas urgências hospitalares de casos de pessoas atingidas por arroz, batatas, pedaços de bife ou de peixe frito, bocados de fruta ou de vegetais diversos, e até mesmo por caroços. Talvez se encontre aqui a justificação para as viagens de boca a que já fizemos referência anteriormente, sendo assim viagens dirigidas especificamente aos hospitais. Hoje em dia é moda conversar para um objecto que as pessoas encostam ao ouvido, na esperança de manter a conversa em dia, embora muita gente também o faça de noite.

Com o tempo, as pessoas aprenderam a escrever. Escreve-se em todo o lado, sendo especialmente de bom gosto escrever nas paredes e nos monumentos, que são coisas que as pessoas mandam plantar em certos sítios para se esqueceram delas mais depressa. Escreve-se bem ou mal, conforme as opiniões. Mas escreve-se muito. E depois nem por isso se lê. Mas as pessoas escrevem furiosamente, escrevem furiosas, há pessoas furiosas que escrevem, e há também aquelas que já não escrevem, porque desistiram ou porque pertencem àquele grupo das que foram levadas pelos outros não se sabe bem para onde.

terça-feira, outubro 03, 2006

O que se escreve por aí...

De quando em vez, até mesmo aqui em alguns textos, embora com maior concentração nos comentários (ai, ai, devem ser os hábitos dos SMS), damos de caras com uma ou outra palavra atingida na sua dignidade profissional de palavra: ou lhe falta uma letra aqui ou acolá, ou lhe trocaram as voltas, ou é um acento que foi engolido juntamente com o jantar, o que acontece quando se está com algum apetite, e é perfeitamente natural.

Aqui fica um texto que encontei por acaso num outro blogue, em que a escrita sofreu infelizmente um ataque de tosse e ficou um tanto ou quanto engripada.
À semelhança dos livros do Wally, vamos lá ver quem é que dá pelos erros. Bem, não vale a pena referirem-nos aqui, é só para despertar a atenção. Para além da piada do texto, claro.

«Nu Carnaval vou de Zorro

Oije voltei cá todo sastefeito porcagora já teinho um amigo meu, o Ojevaldo que me currije os testos prutanto já escuzam de me andar a mandar meiles a dizer que eu só dou errus e que não precebem nada do que eu vus conto. Mas não çademirem que passe algum pruque ele vê mal e nestas coisas sempre passa qualquer coisa.
O Ojevaldo primo do meu pai que tem uma drugaria e tinha um cágado xamado Cágado e era a mascote da loija e tem bicus de papagaio e anda um bocado curvado lá pela loija mas foi prucausa deles que ele se casou à pouco tempo com a Jaquina que agora é minha prima. É que a Jaquina tem um quintal que dá para as trazeiras onde pelanta couves, alfasses e tumates mas os páçaros, como os tumates dela cumeçam logo a tomar cor e são sempre munto vermeilhos, comemlhus todos. Mas a vizinha dela também os pelanta e estão sempre bunitos cumócaraças. Então a Jaquina preguntoulhe como é que ela fazia e ela contoulhe que tinha comprado umas bolas de chumbo na drogaria e depois as tinha pintado de encarnado que pareçiam mesmo tumates e os tinha posto nus canteiros e então os páçaros tinham lá ido picar e maguaram o bico e nunca mais voltaram. E então a Jaquina tambeim quis ver se conseguia ter uns tumates de jeito e foi à drugaria e perguntou ao Ojevaldo que estava todo dubrado atrás do balcão se ele tinha tumates de chumbo e ele respondeu que não, que eram bicos de papagaio.
Mas á coincidências, como diz a Margarida Rebelo Curreia, e aquilo foi o cumeço do namoro e depois do cazamento e paresse que são munto felizes o que eu axo esquizito pruque ele tem 78 anos e ela 29, a ele já lhe caiu o cabelo quase todo e a ela ainda lhe continua a creçer o bigode.
A minha mãe é que diz que aquilo é um cazo de amor munto bonito mas já dizia a mesma coisa de quando o Guedes andava cua Etelvina e depois viusse quando ela fugiu com o gaijo dos Correios.
Eu emcima diçe que o Ojevaldo tinha um cágado pruque já não tem. Era munta grande e munta feio, como andava sempre a arrastarçe pelo xão andava çempre munto sujo e o Ojevaldo não o lavava. E eu há dias tive pena do bixo peguei nele e meti-o numa baçia cheia de água com lichivia para ver se ele ficava branquinho e comecei a esfregar com palha dasso e o cágado começou a deitar bolhas pela boca e fexou ozolhos e nunca maizozabriu. Aicho que o cágado era alérgico à água, mas pelo sim pelo não que já é costume culparem-me de tudo, amandei-u pela pia senão ainda diziam que tinha çido eu o culpado por ele ter batido a bota. Agora o Ojevaldo anda çempre de cu para o ar à procura do cágado. Só espero que a pia não intupa, senão lá fico eu umas poucas de semanas sem ver os beibeleides pruque çó eu é que lá entro e eles não vão acreditar quando eu lhes diçer que secalhar o Cágado tinha tido vontade de çe çervir da pia. Beim, mas vem aí o Carnaval e eu já disse que me quero mascarar de Zorro para usar uma ispada (que já cá teinho) e uma máscara preta, que eu já ando de olho no Black que é o cão do Silva da padaria, para me servir de cavalo e o Beto para fazer de Tonto e o Barnardo, que é um puto gordo que mora aqui ao lado, para fazer de çargento, mas ele não quer, mas eu não tenho mais ninguém para fazer de çargento prutantos ele vai ter que çaguentar á bronca e levar umas espadeiradas senão nunca mais o deicho ficar çózinho com a minha prima Amélia a brincar aos médicus e às donas de casa
O meu pai é que não anda munto convençido. Mas ele é munto esquizito e faz um bixo de sete cabeças de tudo. Vejam lá que ele não uza roupa interior e noutro dia ele estava a vestir as calças de ganga da Leves quando eu peguei no ferro ilétrico com que a minha avó friza o cabelo que fica sempre que parece a madame Pompadur que eu não sei quem é mas é o que o meu pai diz e estava ligado, e ia-u meter no aquário porque vi que a água estava fria demais para os peiches que andavam todos de olhos arregalados e ele viu e curreu para mim não sei pruquê mas ao mesmo tempo puchou o fecho éclér das calças com forsa e intalouçe. Não çei o que é que ele intalou mas amandou um berro e disse um grande palavrão que até acurdou o vizinho do treceiro andar que é polícia e trabalha pur turnos e que curreu pelas escadas em cuecas de caçetete na mão mas que se esqueceu de pôr o capaxinho e agora toda a gente sabe que aquela cabeleira farta que até parecia a minha tia Guilhermina que até tem pelos nas orelhas e eu não gosto nada que ela me beije pruque fico todo lambusado e com a pele da cara toda xeia de impinges, afinal não era dele e agora já ninguém lhe tem respeito nu prédio e ele não fala com o meu pai que anda há duas semanas de perna aberta que até parece que se sentou numa cadeira de pregos. A minha mãe até lhe comprou uma almofada em forma de “O” que ele trás çempre com ele. E eu nunca mais vi os beibeleides. Como se eu tivesse tido culpa de ele se ter intalado. Só se foi os peiches terem ficado esturricados, mas foi sem querer que eu só queria aquecer a água, axo que o ferro de frizar é que istava avariado.
Mas está deçidido: vou mesmo de Zorro. Até já tenho espada. Ando ançioso por esperimentar o novo atissador da lareira que o meu pai comprou no Barnardo.

Carlinhos»

segunda-feira, outubro 02, 2006









E aqui está outro vídeo... peço desculpa, mas não consegui ficar indiferente.
Prometo que a partir de agora vou postar outras coisas.

Este vídeo dá-me mesmo muito que pensar, nós, seres humanos, somos racionais, o que nos distingue dos outros animais.
Acho que no nosso dia-a-dia não pensamos nestes casos, mas existem muitas crianças maltratadas pelos próprios pais ou familiares, cerca de cem por dia.
Os animais não maltratam as suas crias, antes pelo contrário, dão-lhes amor e carinho.
Agora expliquem-me porque é que alguns seres humanos não fazem o mesmo com os seus filhos?
Nós é que somos racionais...ou pelo menos é o que aparentamos ser.

Curiosidades linguísticas (e não só)

A maneira como o nosso cérebro reage à leitura pode ser testado neste texto em que algumas letras se encontram trocadas.

Pios é:
De aorcdo com uma pqsieusa de uma uinrvesriddae ignlsea, nao ipomtra a odrem plea qaul as lrteas de uma plravaa etãso, a úncia csioa iprotmatne é que a piremria e utmlia lrteas etejasm no lgaur crteo. O rseto pdoe ser uma ttaol csãofnuo que nsó pdomeos anida ler sem gnderas pobrlmeas. Itso é poqrue nós nao lmeos cdaa lrtea isladoa, mas a plravaa cmoo um tdoo.
Cosiruo não?

~ * ~


Outro facto interessante é a maneira como conseguimos descodificar um texto que contenha letras e algarismos e continuar a lê-lo como se apenas fosse constituído por letras:

M473M471C0 (53N54C1ON4L)

4S V3235 3U 4C0RD0 M310 M473M471C0.
D31X0 70D4 4 4857R4Ç40 N47UR4L D3 L4D0
3 P0NH0-M3 4 P3N54R 3M NUM3R05,
C0M0 53 F0553 UM4 P35504 R4C10N4L.
540 5373 D1550, N0V3 D4QU1L0...
QU1N23 PR45 0NZ3...
7R323N705 6R4M45 D3 PR35UNT0...
M45 L060 C410 N4 R34L1D4D3
3 C0M3Ç0 4 F423R V3R505
H1NDU-4R481C05


~ * ~

E também merecedor de atenção é o facto de não sermos capazes de nomear as palavras que se seguem dizendo-as rapidamente e em sucessão, em voz alta, sem nos enganarmos.

Diz então, em voz alta, a cor e não a palavra:

AMARELO AZUL LARANJA

PRETO ROXO VERDE

CINZENTO AMARELO ROXO

LARANJA VERDE PRETO

AZUL ROXO CINZENTO

VERDE AZUL LARANJA

Houve algumas trocas, não?

Isto acontece porque há um conflito entre a parte direita do nosso cérebro, que tenta referir a cor, e a parte esquerda, que tenta referir a palavra.

Cúmulo da Ignorância



Isto é para não virem dizer que os portugueses é que são incultos.

Estes franceses ainda devem viver na idade média.

domingo, outubro 01, 2006

Arte urbana com falhas

Na passada sexta-feira à noite, fui a Lisboa à procura da Luzboa. Uma boa ideia, um bom trocadilho. Mas pouco mais do que isso.
Não sei se ouviram falar deste evento. Foi a segunda vez que cá esteve e ontem teve o seu termo. Consistia em enfeitar as ruas da Lisboa nocturna com luzes verdes, vermelhas e azuis e trazer a arte contemporânea para a rua. Havia vários percursos pedonais, cada qual com a sua cor, durante os quais éramos convidados a observar projecções e jogos de luzes que representassem a arte moderna. Ou, pelo menos, era o que se ouvia dizer.

As expectativas eram altas. “Deve ser muito giro! Lisboa com iluminações diferentes e projecções engraçadas. Há tantas coisas interessantes para fazer com luz e tantas cabecinhas cheias de criatividade!”. Porém, ou fui eu que não tive sorte, ou aquilo não era o que se dizia.
Dois carros partiram de Santo António e foram até ao Príncipe Real. Daí passaram pelo Bairro Alto, Largo Camões, Cais do Sodré, Praça do Comércio, Sé e só na Graça é que encontraram um lugar para estacionar – tarefa quase impossível. Sempre deu para ir vendo o movimento nocturno e candeeiros vermelhos. Depois de estacionar, toca a andar a pé! Da Graça seguimos o percurso azul (o que correspondia ao Miradouro das Portas do Sol até às Escadinhas de São Cristóvão).
Quer de automóvel, quer a pé, as únicas coisas que vimos foram candeeiros com papéis celofane azuis e vermelhos, umas caras projectadas em telas no meio da rua e uns tubos luminosos. Tudo bem que do percurso verde só vimos o início da Rua de Santa Justa, mas mesmo assim soube-nos a pouco, a muito pouco. Sim, é giro ver uma cidade de cara lavada que não dorme, cheia de vida, movimento e cor. Mas… e os projectos? Quase digo que o melhor de tudo foi descobrir onde é que fica o Chapitô, a escola de artes circenses.

Ao ver isto, que julgo ser um evento falhado, pergunto: se há ideias, porque não são aproveitadas? Se há projectos, porque é que não se esforçam para criar boas coisas? Decerto que desta vez não era falta de dinheiro… Porque é que não se investe mais na cultura no nosso país? E se a arte contemporânea urbana existe (e acredito que sim), porque é que não a tornam visível? Será que só os graffitis são o símbolo da (sub-)urbanização actual?

Uma crónica



Hoje deixo-vos aqui uma crónica, retirada do jornal Público, do dia 3 de Junho de 2006. Gostava, sobretudo, que dessem um pouco de atenção ao estilo da escrita, e ao conteúdo do 2º parágrafo. O que se entende por «repouso imperturbado e bovino», relacionado com a televisão, o DVD, a música popular ou a conversa de computador?

Polémico, não?