segunda-feira, dezembro 25, 2006

É Natal!

NATAL!
Época de alegria. Altura do ano em que (quase!) toda a gente pára o que está a fazer, para se ir juntar aos seus, e passar um dia (ou quem sabe, a semana toda) de felicidade e alegria.

Natal!
Época de stress. Altura do ano em que todos os que pararam o que estavam a fazer se atarefam de ir às lojas para comprar prendas para a família/amigos/colegas/animais de estimação/etc.; e o merecido (ou não) descanso é com um carrinho de compras pela frente, uma carteira recheada (ou apenas com uns trocos) no bolso, e expectativas (com um misto de ânsia...e até de receio) de não desiludir aqueles que receberão as prendas.

NATAL!
Época de paz e amor. Altura do ano em que o espírito solidário das pessoas vem ao de cima, para transmitir a mesma alegria aos mais desfavorecidos e necessitados, para que passem momentos tão bons (ou quase...) como os nossos.

Natal!

Altura do ano em que somos todos bombardeados ininterruptamente de publicidade, que sem descanso nos incentiva a comprar aquele brinquedo ou aquela colecção ou isto, aquilo e mais alguma coisa.
Altura do ano em que os supermercados se enchem para dar lugar à moderna magia que faz o Natal actual, baseada em comprar e vender; baseada em receber e oferecer... baseada única e exclusivamente na troca (a dinheiro ou não) de bens...
Altura do ano em que nos sentimos bem com as sensações e "energias positivas" transmitidas, mas em que nos sentimos infelizes por não termos meios de comprar aquilo que vimos na TV (seja para quem for - para nós, para os amigos, filhos (para quem os tem) ou até para um alguém especial).
Altura do ano em que ridiculamente nos sentimos obrigados a comprar prendas a todos os nossos amigos, mais ou menos chegados, sob pena de ficarmos "mal vistos" ou com fama de forretas. Pior ficam os pais, ao ver nos olhos dos filhos a desilusão de o Pai Natal não ter trazido exactamente o que tinham pedido.

Época gerida maioritariamente pelo valor na carteira, e não pelo valor no coração.

Época em que o espírito consumista atinge o seu ponto anual mais alto.

A verdadeira magia do Natal perdeu-se.

Todos os anos é a mesma coisa: notam-se os preparativos para as festividades de Natal. Vemos as decorações nas ruas, montras, casas. Até na televisão. Iniciam-se as festividades. Vêem-se as promoções das grandes (e até das pequenas) superfícies, com uma caixinha para as crianças meterem o "X" de "é isto que eu quero".
Vemos as crianças nos supermercados a dizer ao pai/mãe "posso pedir aquilo ao Pai Natal?", apontando para um enorme carro telecomandado, ou para um jogo qualquer de PlayStation. Ou até para a própria PlayStation, para desespero dos pais.
Todos os anos ouvimos falar da magia de Natal. Da alegria que transmite. Das famílias que une.
No entanto, há que admitir que essa tão-famosa "magia" practicamente já não existe, senão nas famílias mais humildes - aquelas que dão mais valor aos presentes oferecidos pelo coração que aos presentes comprados pelo dinheiro.

A primeira coisa que nos dizem, depois de "Feliz Natal!", é (normalmente) "Então, o que foi que recebeste?". Experimentem dizer "nada", e a primeira impressão é a de "coitado!" ou de "é pobre!" (precedida também de um "coitado!"). Verdade seja dita, graças a Deus nunca foi preciso eu dar esta resposta. Mas as reacções a ela são nítidas.

Na minha opinião pessoal, estarmos a comprar prendas para todos é estarmos a comprá-los a todos. Se bem que possa parecer uma posição bastante extremista, é o que eu penso. E a opinião com que ficam da prenda, pelo outro lado, acaba por influenciar o que pensam de nós. Então quanto mais valiosa (monetáriamente) for a prenda, melhor será a impressão com que ficam de nós. Certo?

Até que ponto é importante um presente de Natal? É algo com um nome tão pequeno e simples, mas com uma força tremenda na opinião de quem o recebe.
Até que ponto é importante o valor desse presente? Valerá mais um presente altamente caro, dado com o propósito de se dizer "EU DEI AQUILO" (ou de levar o receptor a pensar "FOI ELE QUE ME DEU AQUILO"), ou um presente comprado nas famosas superfícies FdL (vulgo "Feira da Ladra"), mas dado com a melhor das intenções?
Vale-vos mais um presente envenenado com todo o dinheiro e ganância duma pessoa, ou um presente não tão valioso por si mesmo, mas com um valor simbólico incalculável?

Não espero respostas a isto. Nem preciso. A minha opinião está dada. Sou uma pessoa ligeiramente consumista (e admito)... mas no Natal é que vemos o consumismo atingir o seu limite. E fiquei pasmado com o que eu vi num passeio pelo C.C.Vasco da Gama (quando fui comprar o único presente de Natal que irei dar). As atitudes dos pais para com os filhos, ou dos pais entre eles a discutir qual dos dois (o mais caro ou o mais bonito) é que o filho iria gostar de receber como presente de Natal. E é assim que por vezes se originam discussões. Mas não vou entrar por aqui agora, já que são casos à parte.

Não peço desculpa por vos dar tamanho testamento a ler, porque só lê quem quer. Nem tão pouco pretendo privar-vos de tudo o que o Natal traz de bom. Estou, pura e simplesmente, a deixar a minha opinião. Todos os anos há Natal. E todos os anos fico a pensar na mesma coisa. (E não fiquem a pensar que detesto o Natal. Antes pelo contrário! Apenas prefiro o antigo Natal, como ele era, ao moderno Natal, que é o actual)
Para todos, Feliz Natal (com algumas prendinhas, como manda a tradição), e um Próspero Ano Novo.

Deixo-vos não com um "até um dia" ou qualquer outro tipo de despedida, mas sim com uma frase que se ouve bastante na televisão e na rádio nesta época festiva, como alerta àquilo que as crianças estão expostas actualmente:

"Brinquedos, brinquedos, eles são a nossa maior alegria!"